terça-feira, 9 de dezembro de 2025

traços do arquiteto


Na manhã de 6 de dezembro de 2012, a antropóloga carioca Yvonne Maggie seguia em um táxi para o Instituto de Arquitetos do Brasil, no Rio de Janeiro. No rádio, o noticiário repercutia a morte de Oscar Niemeyer no dia anterior.

Entre muitos depoimentos de personalidades sobre a importância do arquiteto, Yvonne se emocionou com o relato de um repórter. Ele estava na fila de uma padaria e ouviu a conversa de uma menina, de sete ou oito anos, com a mãe. A garota disse que se sentia muito triste porque Oscar Niemeyer morreu. E arrematou: “Ele foi um grande escritor que escrevia casas e edifícios”. A mãe, curiosa, perguntou onde ela aprendeu aquilo. “Na escola”, afirmou.
Assim como Yvonne, imaginei que essa menina poderia ser aluna de um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), criação de Darcy Ribeiro quando foi secretário de Educação no governo Brizola, e desenhado por Niemeyer. E lembrei do livro de memórias do arquiteto, As curvas do tempo, lançado em 1998.
Niemeyer começou os textos no final dos anos 70. Mas tinha dúvidas da qualidade literária. Foi seu grande amigo Rodrigo Melo Franco de Andrade, historiador, que o incentivou: “Vai escrevendo, Oscar, vai escrevendo. Corrige depois”.
Publicado pela Editora Revan, o livro cativa pela simplicidade narrativa, como estivéssemos numa sala ouvindo o autor contar onde nasceu; sua infância no bairro Laranjeiras; as idiossincrasias dos parentes; a quantidade de escritores que leu; as farras com os amigos; o medo de viajar de avião; o despertar pela arquitetura e a relação afetiva com Le Corbusier; sua militância no partido comunista e amizade com Prestes; seu primeiro projeto individual, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha; os bastidores da construção de Brasília e as longas conversas com Juscelino; a resistência de não se entregar à velhice e o incômodo com a implacável certeza da morte.
O escritor italiano Alberto Moraria dizia que a literatura se engrandece quando se aproxima da linguagem oral, máxima que se aplica ao despojamento da autobiografia de Niemeyer. Sem ter necessariamente uma sequência cronológica nos capítulos, a imagem que faço são folhas de croquis literários espalhadas sobre uma enorme prancheta e o autor pegando uma para ler, depois outra para reler, abaixando-se para pegar uma que caiu com o vento que entrou pelo janelão de seu escritório em Copacabana, onde trabalhou até cinco dias antes de falecer, aos 104 anos.
Para a edição do livro, o autor criou desenhos, colocados no final das páginas, como rodapés na sala ilustrando trechos de uma casa.
Niemeyer, o arquiteto que teve seus traços lidos pela menina da fila da padaria.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

descobrindo Manoel


 Foto: Juan Esteves


para Manoel de Barros

Invento descobertas
no meio da escuridão.
Manoel diz que nos alimentamos
de escuros.
Quando tudo era nada.
Quando ainda somos nada.
Quando precisamos nos descobrir.
Manoel tem razão,
não:
Manoel tem coração,
sentado lá sob sua luz
em algum escuro do pantanal.
Manoel tem coração,
não:
Manoel tem razão,
inventando palavras
inventando descobertas.
Manoel de tão verdadeiro
é invenção minha
é descoberta minha.
- Do meu livro Poesia provisória, Editora Radiadora, 2019.
E Manoel descobriu meu poema um pouco antes de inventar de embora em 13 de novembro de 2014.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

bússola


  Do meu livro Poesia provisória, 2019, Editora Radiadora

sábado, 11 de outubro de 2025

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

poesia na rua


 

no meio da rua


“Um livro de poesia na gaveta / não adianta nada / lugar de poesia é na calçada”, começava Sérgio Sampaio sua belíssima composição Cada lugar na sua coisa, de 1976.

O poeta cearense Paulo Fraga-Queiroz ouviu o brado inquieto do compositor capixaba e botou nas ruas o bloco do genial projeto Poesia Em Cartaz: pegou 80 autores com respectivos versos curtos e estampou em 80 outdoors pelas ruas de Fortaleza!
E aí me lembrei de um verso de Paulo Leminski que disse por trás de seus óculos e bigode: "Belo seria se os anúncios luminosos não fossem comerciais". Fraga-Queiroz, que também é publicitário, satisfez o desejo do poeta curitibano.
Seu projeto reflete na paisagem urbana a desmercantilização da beleza e da arte. Poesia publicada na pele da cidade, a céu aberto, por suas esquinas e ruas, como registra a sinopse de sua ideia. Uma oportuna reflexão sobre o que é verdadeiramente belo, sobre o impacto da publicidade na sociedade através da poesia e na percepção da realidade na leitura de versos rápidos e tocantes.
Parabéns, Paulo, pelo seu imenso, urgente e necessário trabalho de divulgar poesia nas dimensões 9m x 3m de um outdoor.
Sinto-me honrado por estar na segunda temporada de 20 poetas.
E escolhi um verso que indicasse minha perplexidade e timidez sertaneja. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Poesia em Cartaz


"É com grande alegria que damos início à segunda edição do projeto Poesia em Cartaz.
E para abrir essa jornada, temos mais 20 poetas, letristas, romancistas nesta edição.
Destacamos a poesia de Nirton Venancio.
Poeta reconhecido, Nirton foi premiado em vários concursos nacionais de poesia. Publicou os livros Roteiro dos pássaros (prêmio Filgueira Lima de Poesia), Cumplicidade poética, Poesia provisória e Trem da memória. Além disso, é um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura e editou a revista Comboio de Literatura, ambos em Fortaleza.
Cineasta festejado, seu curta-metragem Um cotidiano perdido no tempo recebeu o prêmio Margarida de Prata da CNBB, além de melhor filme e melhor fotografia na Jornada da Bahia. E O último dia de sol foi premiado nos festivais de Curitiba, Cine Ceará e no Maranhão recebeu o Troféu Jangada da Organização Católica Internacional de Cinema.
Senhoras e senhores, com vocês, Nirton Venancio, um mestre da palavra e da imagem.
Nirton, pra mim, você é um dos grandes responsáveis por incendiar a cena cearense de literatura. Que honra ter você com a gente neste projeto, amigo! Arre-égua, macho! Evoé!
Serão 20 outdoors, 20 poetas, 20 poemas pelas ruas de Fortaleza. Uma miscelânea de vozes para dar conta da poesia nos dias de hoje.
A segunda edição vai acontecer de 06 a 19 de outubro. Ou seja, todos os participantes, a seu tempo, terão o momento de ver seu trabalho na rua e repercutindo nas redes sociais".
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

eu viajei de trem


 "Nirton, finalmente estou conseguindo tempo pra me dedicar a seu livro.

Que bonita essa edição. E que belo e emocionante poema, meu amigo. Todo o conjunto (projeto gráfico, capa e a escrita falam a mesma língua, andam na mesma direção) me leva a viagem que é a sua, por óbvio, mas que também é daquela criança que ainda nos habita e entre nuances e um verso ou outro nos acena. De longe, porém dentro da gente. Enquanto a vida acontece quadro a quadro, da janela, enquanto o trem vai seu caminho. Estou emocionado, amigo! E a viagem ainda não terminou!
Não é à toa que desde a faculdade sou seu fã!"
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário (Fortaleza-CE)
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Trem da memória, Editora Radiadora, 2022